Sou “ovo” de novo
- Roberto Monteiro
- 13 de set.
- 2 min de leitura
Atualizado: 16 de set.

Ao longo dos meus 71 anos, vivi intensas e verdadeiras emoções. Recordo os dias luminosos da infância, os sonhos inquietos da adolescência, o coração acelerado no primeiro beijo, a conquista do vestibular de engenharia, a alegria das formaturas, a felicidade do casamento com a Vera e a bênção incomparável do nascimento de minhas filhas, Jordana e Isadora. Vieram ainda as vitórias no futebol, a efervescência da política, as inaugurações de obras, sobretudo as dedicadas às crianças, o apoio a grandes causas e as premiações recebidas pela nossa cidade. Foram tantas emoções que acreditei já ter tocado o auge da vida.
Mas nada, absolutamente nada, se compara ao nascimento dos meus netos.
Em 2 de setembro de 2017, chegou Clara, minha primeira neta, essa maquininha divina que nasceu sob o céu azul de Marília, terra de bons ventos e liberdade. Ao olhar em seus olhos pela primeira vez, experimentei algo que só consigo definir como um estado agudo de felicidade. Clara veio como farol, iluminando o aconchego da família, a primeira e mais sagrada das instituições.
E como a vida é generosa, ainda me deu outro presente. Em fevereiro de 2024, em pleno carnaval, quando o Brasil inteiro dançava em cores, nasceu Théo. Sua chegada foi simbólica: eu, que imaginava ter perdido um reinado inventado, percebi logo que quem sempre comandou a casa foram as mulheres. Ainda bem que o Théo veio equilibrar um pouco essa corte afetiva.
Desde cedo, Théo mostrou-se espontâneo e criativo: não se prende a brinquedos comuns, prefere transformar objetos em pequenas mágicas. Parece um arlequim, cheio de alegria. Hoje, com um ano e meio, já compreende tudo o que falamos, conversa sem parar e tem crises de riso que nos contagiam, devolvendo sentido à vida. Conquista a todos com seu jeito sagaz e brincalhão, e nos surpreende diariamente com sua forma única de ver o mundo.
Clara e Théo são meus xodós. Companheiros de risos e travessuras, trazem graça, movimento e luz para dentro de casa. São a prova viva de que a felicidade se multiplica quando encontramos no outro o reflexo do nosso amor.
Certa vez, uma amiga da Vera me disse: “ser avô é experimentar o amor maduro”. E nunca esqueci também o conselho de um sábio trabalhador:
– “Roberto, você vai virar ovo. Quando sua neta começar a falar, vai repetir sem parar: O vô, O vô, O vô.”
E assim foi. Aos 63 anos virei “ovo”. Aos 70, fui “ovo” de novo.
Hoje sou só alegria. E recorro ao imortal Belchior para traduzir meu estado de espírito:
“Estou alegre como um rio, um bicho, um bando de pardais,
Como um galo, quando havia, galos, noites e quintais.”
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